cd Pequeno Circo Íntimo (só clicar), de Adriana Capparelli. Pra ouvir hoje – e sempre -, e dar muitos VIVAS a Aldir Blanc.
De certa forma devo a ele ter conhecido Adriana Capparelli. Ela estava gravando seu primeiro cd solo, só com composições de Aldir Blanc com diferentes parceiros. Eu estava me preparando para gravar minhas versões em português para as canções do francês Boris Vian, e isso aconteceria no mesmo estúdio onde ela estava dando vida àquelas letras. Seríamos então colegas de gravadora. Dabliú Discos, do compositor Costa Netto, que nos apresentou.
Estivemos juntas depois apresentando esses nossos trabalhos na inauguração do primeiro espaço d’Os Satyros na Praça Roosevelt.
Tempo animado. Muito amor, muita inspiração, novas parcerias, novos projetos, criações. Adriana com seu Pequeno Circo Íntimo, show dirigido por Isabel Setti, ocupava o espaço às segundas e terças-feiras, eu com meu Letícia Coura canta Boris Vian, dirigido por Rodolfo Garcia Vasquez – e onde contracenava com Ivam Cabral, um quase anagrama do Vian -, às quartas e quintas, e de sexta a domingo, com Os Satyros, o espetáculo Retábulo da Avareza, Luxúria e Morte, de Valle-Inclán, também com direção de Rodolfo. Eu então ficava lá a semana inteira: nas noites de segunda e terça fazia a bilheteria e operava o som do show, e era mesmo uma viagem regular volumes, agudos, médios e graves pra ouvir as palavras de Aldir Blanc na interpretação da Adriana. Um cabaré no melhor estilo, meia luz com as canções encenadas pelo espaço recém aberto, entre mesas, cadeiras, o público que vinha e voltava muitas vezes. Uma intensidade . . . !
Só uma introdução pro cd que deu vontade de ouvir hoje, que despedimos de Aldir Blanc daqui desse momento surreal que estamos vivendo. Uma leitura muito pessoal e intensa da obra de um dos maiores letristas brasileiros. Que como li hoje, sabia escolher bem as palavras, e usar umas gírias que só ele desenterrava. E Adriana soube aproveitar cada uma delas que escolheu pra cantar.
Pra ouvir Doraaaaaaaaaaaaa ! ! ! ! !, num fôlego só, cortando e fazendo cortar todos os pulsos que a letra pede. Ou além.
Hoje, tanta gente confinada em casa com sensação de fim de mundo, uma boa forma de sobrepor universos paralelos. Bora ouvir Adriana Capparelli interpretando um dos melhores cronistas cariocas, de um mundo do qual vamos nos despedindo a cada dia, mas sempre buscando inspiração nos poetas pra inventar esse próximo que nos aguarda.