Das Paredes

Essas Paredes já têm uma história desde a sua primeira ideia, que vou contar em um próximo post. Um texto que comecei a escrever e trabalhar como música e dramaturgia lá em 2015 . . . Por aqui já fica o convite para conhecer um pouco dessas Paredes e das TijolAs que as compõem.

VEM AÍ!
Das Paredes: as mulheres, as aventuras e angústias de tijolo em 6 lives.

Mistura de teatro, música, poesia e cinema, o espetáculo Das Paredes está em processo de criação. Interrompido com o começo da pandemia, o trabalho estrearia em maio de 2020, justamente quando chegou a notícia de que teatros e salas de espetáculo ficariam fechados. Agora, quase um ano depois, o projeto para a viabilização da peça foi contemplado pela Lei Aldir Blanc do Estado de São Paulo, no Proac Lab.

A equipe é formada só por mulheres. São as tijolAs-protagonistas, que atuam em cena e nos bastidores, e discutem que paredes são essas, e como derrubá-las.

São elas:
Bia Fonseca (produção)
Brenda Amaral (comunicação)
Cecília Lucchesi (audiovisual e produção gráfica)
Chiris Gomes (música e atuação)
Cris Cortilio (arquitetura cênica)
Gabriela Campos (figurino)
Letícia Coura (direção, música e atuação)
Lúcia Galvão (iluminação)
Maria Bitarello (música e comunicação)
Nana Carneiro da Cunha (música e atuação)
Tetê Purezempla (música e atuação)

Mas de que paredes estamos falando?
Das Paredes que já vieram prontas, das que criamos todos os dias, das que constroem para nós e por nós.

VEM VER QUE TÁ LINDO!

📲TEMPORADA:

15 e 16/03 (segunda e terça), 20h
22 e 23/03 (segunda e terça), 20h
29 e 30/03 (segunda e terça), 20h

🎫OS INGRESSOS SÃO GRATUITOS, BASTA RESERVAR O SEU EM: SYMPLA.COM.BR/DASPAREDES

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Marcia Tiburi e o Brasil mais apertado

14695305_10210648943730019_520910363413503396_n (1)Conheci Marcia Tiburi na primeira reunião da #partidA em São Paulo. Minha amiga Nana querida estava em casa, e durante uma conversa feminista me falou do encontro que aconteceria em breve, da Marcia, nos apresentou acho que pelo facebook – quando ainda era possível se comunicar por ali, ao que ela logo respondeu animada sim, venha! Fui.

A reunião foi ótima, conheci mulheres incríveis, fui em outras na sequência, acabamos nos aproximando mais por conta de uma parede que caiu no Teatro Oficina no momento em que ela falava de outras paredes caídas, e que quase nos fez parceiras num texto teatral. A parceria na parede não vingou, mas a ideia sim, virou música, está virando outras, muitas inspirações e novas parcerias. Alguns encontros aqui e ali fui percebendo uma característica muito especial de ariana que ela é, a de botar fogo em ideias e projetos, que depois andam por si.

Tempos depois por outros caminhos ia publicar meu primeiro livro de contos Então é isso?!, e queria muito uma mulher para apresentá-lo, pensei na Marcia. Novamente ela foi tão aberta, tão pronta a ler, dispondo-se a escrever o prefácio, cumprindo prazos, tamanhos, e até discutindo sobre o que havia escrito. É claro que eu não teria como retribuir tanta generosidade, e quanto valeria um prefácio de Marcia Tiburi para uma primeira investida no mundo da literatura, com contos guardados por anos em gavetas e pastas de computador?

Ela como sempre bem humorada: quer me dar um presente? Topa ler trechos do meu livro novo, que vou lançar em São Paulo em breve? E quem ganhou o presente fui eu, que ao lado da poeta Alice Ruiz (!) e do compositor e cantor Carlos Careqa, participei do lançamento de seu Uma fuga perfeita é sem volta.

Hoje fico sabendo pelos jornais que Marcia Tiburi está fora do Brasil e não pretende voltar tão cedo. Que vinha sofrendo perseguições e ameaças de morte, que desde que se negou a estar no mesmo programa de rádio que aquele kimbecil, cuja participação não lhe havia sido comunicada, sua vida virou um inferno com ataques incessantes de intrépidos virtuais, e que depois da candidatura a governadora do Rio pelo PT até a eventos literários precisava ir acompanhada por seguranças, passou a ser agredida na rua, e outros horrores que estamos nos acostumando a achar normais. Ameaças de morte.

Além da tristeza que essa notícia traz, da sensação de abandono cada vez maior, não só nossa, mas desse país gigante e tão amado nas mãos de uma gang alucinada de tão ignorante e cega pela própria mesquinhez, o medo que dá é o de não perceber se já chegou naquele ponto insuportável e que não notamos, ou pelo estado de choque provocado por cada notícia inacreditável que bate na nossa cara logo de manhã, ou porque tudo veio acontecendo tão rápido que não deu tempo de perceber o quão na merda já estamos.

E o que mais assusta nessa história nem é procurar pela notícia da saída da Marcia do país e já encontrar pela internet tantas agressões antes mesmo da notícia em si. Mas pensar em como chegamos nisso, nas pequenas picuinhas do dia a dia, nos comentários maldosos que já ouvimos de ‘amigos’ incríveis, da família ‘adorada’, dos vizinhos ‘cordiais’, nas pequenas agressões cotidianas que nos fazemos uns aos outros por um nada mesquinho que está tão entranhado na nossa cultura que nem distinguimos mais. O que estamos virando? Ou sempre fomos assim e só agora nos damos conta. A merda está escancarada na internet, mas muitas vezes bem escondida em nós mesmos.

Hora de parar de sentar no próprio rabo pra falar só do rabo dos outros. De dar aquela respirada antes de falar, e quem sabe desistir de falar e começar a ouvir. Ouvir o outro. Mas também ouvir profundamente a si mesmo. Se olhar no espelho. Sem máscara.

Cheguei do Carnaval de lavar a alma do Rio de Janeiro, com a Mangueira dando banho de história e arte pro mundo inteiro ver, cantar e dançar junto, e blocos pelo país todo provando mais uma vez que a alegria é a prova dos nove. Começou finalmente o ano, e infelizmente já largamos dando muitos passos pra trás. Que o samba então nos dê força e inspiração pra muito tempo, e imaginação pra sair dessa. E que a Marcia Tiburi continue tendo e botando fogo em tantas ideias, espalhando sua clareza, inteligência e coragem pelo mundão afora. O Brasil vai ficar um pouco menor e mais apertado, mas daqui a pouco essa canoa furada em que estamos pode virar. Os tambores e caxixis já estão batendo e vão bater cada vez mais forte pra balançar essas estruturas de plástico podre. E as paredes de cartas marcadas desse baralho de gangsters vão cair uma a uma com a batida do samba.