Estavam novamente no cinema. Era dos poucos lugares em que ele podia ficar com ela em público sem ser incomodado. E em que ela acreditava ir para se divertirem, e quem sabe até ele não tinha, assim, uma preocupação cultural em relação a ela? É claro que os filmes sempre tinham histórias com trepadas dos atores principais. Mas também, qual filme atual que não tem “cenas de sexo”?, ele dizia. E ela gostava de vê-las.
Nesse dia especialmente sentia-se animada, estava feliz porque seu colega a havia chamado de gostosa pra todo mundo ouvir. Aquilo custou três dias de suspensão, o orientador não achou muito educativo pré-adolescentes -era assim que os chamavam- de onze, doze anos, trocando carícias obscenas durante as aulas. Não estava muito triste em perder as matérias, mas não gostava muito de não ter onde ir durante o dia, e em casa sempre era obrigada a obedecer ordens. E não gostava também do jeito que ele a tratava na presença da mulher. E ela, tia Dolores (ou dona Dolores, dependendo do humor não gostava que a chamasse de tia), vinha maltratando-a muito nos últimos meses.
E o filme já havia começado, mas ela não entendia muito bem o que se passava. A imagem era ruim, os atores apareciam sempre sem cabeça, e a cor fazia com que se lembrasse das fotos de criança que guardava trancadas no armário. Nas fotos ela parecia tão feliz, com sua mãe carregando-a nos braços e enchendo-a de beijos. E ainda por cima todos falavam tão depressa, que ela não conseguia acompanhar o que diziam pelas legendas. Língua esquisita, deve ser espanhol. Gostava mais quando os atores falavam inglês. Lembrava do Michael Jackson.
Ele já havia começado como de costume. Pegava a mão dela e fazia com que segurasse naquela coisa, que a essas alturas esperava dura já pra fora da calça. Como ele parecia gostar daquilo… quer dizer, às vezes não sabia muito bem se ele gostava mesmo, pois era tudo tão rápido. E hoje ele parecia ainda nervoso. Não seria por causa da suspensão, pois nem lhe contara ainda… Mas à medida que o filme ia passando -parecia não haver mesmo história, ou era ela que não entendia-, lembrava do Marquinho, o colega, e quanto mais se lembrava dele parecia quase bom fazer o que fazia. Pegava naquele pau duro, e especialmente naquele dia sentia a buceta esquentar, doer até dentro da calcinha justa. Engraçado que das outras vezes não sentia exatamente prazer em ver aquele homem, que ela respeitava e até temia um pouco, se esfregando na cadeira do cinema e por fim soltando aquela coisa branca em cima dela. Tinha vontade de perguntar o porquê daquilo, mas tinha vergonha. Nunca conversavam, e ela achava que este não deveria ser o primeiro assunto. Sentia que por algum motivo aquilo deveria permanecer um segredo entre eles.
Mas ele estava realmente nervoso. Saíram do cinema e foram tomar um sorvete. Oba!! Antes nunca tinham ido. As coisas estavam melhorando. Sentia-se até um pouco culpada pela suspensão. Poxa, eles eram tão legais com ela e era assim que retribuía. E no meio do sorvete -ela pediu um duplo, bem grande – ele foi pra cima dela, lambia o seu sorvete, começou a beijá-la como no filme. Com força, ele enfiava a língua dentro da sua boca, misturada com o sorvete, pegava em seus cabelos, se esfregava nela, apertava com os dedos o bico dos seios que começavam a despontar sob a camiseta. E agora, meu Deus!? Ela não sabia o que fazer, o pessoal da sorveteria olhando meio de lado, aquele sessentão meio animado demais, com aquela menina que parecia sua neta. Levou-a dali e dentro do carro começou a falar de um jeito que ela não conhecia, muito rápido. Ivetinha (era assim que ele a chamava quando estavam sozinhos), nós vamos nos mudar, vamos morar só eu e você, já aluguei uma casa na praia, você não vai mais precisar estudar, nem aguentar sua tia lhe dando ordens nem olhando torto pra você. Agora você vai ser a dona da casa, e tudo vai ser do jeito que você quiser. Nós vamos almoçar hambúrguer com batata frita e coca-cola todos os dias, com ovos nevados de sobremesa, você vai poder escutar música bem alto e ver todos os programas que quiser na televisão!… É, isso mesmo, nós vamos agora. Ele babava.
Nem passaram em casa. Ela ficou um pouco assustada com a ideia, mas logo se acostumou. A estrada era bonita, toda rodeada de árvores e casinhas. Talvez se esquecesse rápido de tia Dolores. Mas com certeza teria muita saudade do Marquinho. Será que o veria de novo?