Seminais Tecnizados

3 maneiras de criar e estar no Teatro Oficina.
num dos projetos gigantes do Oficina – as Dionisíacas em Viagem – caiu pra mim a função burocrática de organizar os relatórios vindos de todas as áreas: atuação, música, vídeo, direção de arte, figurino, direção de cena, produção, luz, divulgação, dramaturgia, corpo, voz, e mais os que eu esqueço agora. trabalho enorme que acabou sendo tão interessante pela possibilidade de ver um mesmo trabalho por tantos ângulos diferentes. aqueles relatórios que vazavam paixão foram a melhor aula de teatro que tive na vida.
esses vídeos indicados abaixo me deram de novo um pouco desse gosto. uma viagem deliciosa pelo universo dos figurinos pela prática amorosa da nossa diva camareira Cida Melo, os labirintos da tradução de textos com tantos sentidos e a operação em cena da nossa poliglota Maria Bitarello, e um pouco do samba no Oficina pelo cavaquinho e voz desta que vos escreve.
entra lá! esses 3 saem agora, mas já tem também o da nossa arquiteta cênica Marília Piraju, e em breve novos ângulos virão!
boa viagem ! ! !

 

Realizados no Teatro Oficina, dentro dos Seminais Tecnizados da Universidade Antropófaga. Vídeo-aulas contemplada pelo PROAC DIRETO Nº 39/2021 – FOMENTO DIRETO A PROFISSIONAIS DO SETOR CULTURAL E CRIATIVO

TV UZYNA apresenta três videoaulas de uma vez já disponíveis no nosso canal do YouTube – vídeos mais abaixo, continue lendo.

1. NAS ALTURAS DO TEATRO OFICINA
Cida Melo
, camareira do Teatro Oficina desde 1999 até hoje, participou neste período de todas as montagens da Companhia. Responsável pelo enorme acervo de figurinos do Oficina, Cida fala aqui de seu trabalho no teatro, desde a organização dos figurinos de cada montagem, conservação, manutenção, organização da lavanderia, até sua relação com atores e atrizes durante as temporadas dos espetáculos. E ainda vamos conhecer melhor essa personagem vital para o teatro em seu canto de trabalho: Nas Alturas do Oficina.

2. O SAMBA NO TEATRO OFICINA
Letícia Coura 
e seu cavaquinho nos convidam para um passeio pela história do Teatro Oficina através do samba. Há mais de 20 anos atuando na Companhia como cantora, compositora e atriz, Letícia apresenta um breve repertório de sambas do cancioneiro do Oficina, parte dele composto – por ela e outros autores – especialmente para espetáculos como Os Sertões, Bacantes e Acordes.

3. TRADUZINDO O INTRADUZÍVEL
Maria Bitarello
, tradutora do Teatro Oficina desde 2015, traduziu e operou as legendas dos espetáculos montados pela companhia até 2020. Neste breve episódio, Maria conta um pouco sobre a prática de traduzir durante os ensaios, as difíceis escolhas do tradutor-traidor, as atualizações e alterações do texto ao longo da temporada, a concisão do formato legenda e as sutilezas da operação ao vivo.

câmeras Igor Marotti
edições Kael Studart
artes Igor e Kael

Assista também à videoaula da Marília Piraju:
ARQUITETURA CÊNICA DO TEAT(R)O OFICINA projeto de Lina Bo Bardi y Edson Elito SEMINAIS TECNIZADOS #1

 

CORTEJO 24.11

gracias Ocupa Guattari, Sesc e Ocupação 9 de julho.

e fizemos o cortejo dentro e fora do Ocupa Guattari. Teatro Oficina e Universidade Antropófaga. gostar de ocupar a rua. saber ocupar a rua. querer ocupar a rua. saber da importância de se ocupar a rua com samba, tambores, vozes, harmonias, muitas cores nos parangolés e nos corpos, música de mão dupla, tripla…

o corpo na rua, cantando e dançando, contracenando com quem está morando ali, com quem passa, com que está trabalhando, ou no bar bebendo, ou de mau humor no trânsito, e quem sabe por um pequeno momento esquece os imensos probleminhas da vida.

ver a rua de outro jeito, de outro ângulo, com outro corpo, outro espírito, outra percepção. passar pelo terreiro sagrado profano da Vai Vai, cantar pra escola, macumbar pra ela voltar pra lá, ocupar o lugar que é seu, que é nosso, que é da rua. quem nunca viu o samba amanhecer, vai no Bixiga pra ver . . . é tradição e o samba continua passando, Geraldo Filme vivendo em nós, o bar da dona Odete, nós ali cantando debaixo do sol do meio-dia, agradecendo São Pedro que deu uma trégua pra gente botar nosso bloco na rua. Gingar . . . botar pra gemer !

 

os que sabem os sambas e cantam a plenos pulmões, os que tocam e seguram o ritmo e os corpos na mão, que tocam harmonias que guiam as vozes, os que sabem se comunicar com o povo da rua, com o povo das janelas lá do alto e aqui do lado, com os motoristas dos ubers, dos táxis, dos carros quaisquer. os que não sabem e dublam, que procuram e imitam os lábios que sabem, os que não cantam mas dançam com tudo, com o samba no pé, na palma da mão, nos olhos que encontram olhos desconhecidos e que agradecem a música que passa, que se deixam empestear.

sentir a rua como a passarela do samba, cantar pra Oxum, pro rio soterrado mas que sabemos e sentimos que corre ali por baixo e que acabava de transbordar mais uma vez na noite anterior. parar embaixo do viaduto e tocar e cantar forte que ali a acústica é melhor. a rua não é só pra passar pensando em outra coisa e em outro lugar.

subir o morro da Avanhandava cantando o batuque no morro tá formado, u uu uu uu uu ! ! ! !  . . . quem sabe sabe. haja fôlego e fé cênica. e há !

rua pode ser música e encontro de corpos abertos. e é.

escuta o rufar do meu tambor . . . o Oficina Samba chegou !

 

*fotos e captação de vídeo de Cíntia Molter

 

CANTAR

cantar lestranj

Ver ouvir alguém cantando.

Há os que sabem ouvir.

Há os que soltam a voz, os que prendem, os que cantam com a cabeça, com o corpo, com a buceta, com o pau, com o cu, os que pisam no chão, os que saem do chão, os que fazem uma boca pra cantar, os que cantam como falam, os que inventam uma voz cantora, os que cantam as palavras, os que cantam as notas, os que cantam com a harmonia, os que vão pelo ritmo, os que cantam sozinhos, os que cantam junto.

Os que cantam forte e se fazem ouvir. Os que cantam baixo e criam silêncios. A voz agradável, a voz suave, doce, a sensual, a cheia de nervos, a cheia de ar, a resfolegante, a voz que mascara, a que revela. A voz aguda, a fina, a estridente, a pontuda, a firme, a gorda, a cheia, a grave, a profunda. A que esquenta, a que irrita, a que machuca o ouvido, a que não chega até ele.

A orgia de cantar junto, sentir suas ondas vibrando, entrando e saindo de si e dos outros que cantam também e emitem ondas que batem, que entram e saem de todos, vibram juntas e separadas, promiscuidade de sons, de ares, hálitos, calores, alturas, intensidades, espasmos, êxtases.

Os que arriscam sem medo graves e agudos, independente da capacidade ou experiência da voz em seguir o ímpeto. Os que podem ter grande extensão mas não se arriscam. E mostram mais. Os que não abrem a boca, os que cantam antes de ouvir, os que disparam no ritmo, os que ficam pra trás, os que estão aqui, os que não, os que cantam com as mãos, com os olhos, com o coração. Os que tensionam o braço, o pescoço, a garganta, a boca. Os que cantam com alegria, medo ou dor.

Mas todos, todos, se abrem, se jogam, se mostram, e depois de cantar por algumas horas estão mais bonitos.

 

*ilustração de Lestranj Oão

**texto escrito no fim do primeiro mês dos trabalhos com a Universidade Antropófaga – cadernos de atuação 2015.