Solano Trindade – Moleque do Recife

De 2004 a 2006 nós, o Revista do Samba, ficamos por conta do projeto Revista Bixiga Oficina do Samba, selecionado no Petrobras Cultural, que resultou no álbum de mesmo nome, uma Revista de Sambas, e um documentário, Bixiga Samba, dirigido por Tommy Pietra e Fernando Coimbra. O álbum Revista Bixiga Oficina do Samba, com repertório de sambas do bairro do Bixiga, da Escola de Samba Vai Vai, do Teatro Oficina e do Teatro Popular Solano Trindade, interpretados pelo trio e muitos convidados ilustríssimos, está disponível nas plataformas virtuais. E a Revista de Sambas traz, além de partitura e cifras, um pouco das histórias dessas composições e seus autores.

Vou publicar alguns desses textos aqui – com o link pra ouvir o samba, só clicar –, como mais um canal pra manter essa história viva e cantada por tantas vozes. Acompanhando e ecoando o movimento pelo retorno da sede da Vai Vai ao seu ponto de origem, pela paralisação temporária das obras do metrô, e pela alteração do nome da estação pra Vai Vai Saracura.

Pavilhão Vai Vai no Teatro Oficina – foto Maurício Shirakawa

Solano Trindade – Moleque do Recife  (samba-enredo de Geraldo Filme e Aílton Filme)

“estou conservado no ritmo do meu povo

me tornei cantiga determinadamente

e nunca terei tempo para morrer”

(Solano Trindade, em trecho do poema Canto de Esperança, que escreveu para a filha Raquel Trindade.)

livro O Poeta do Povo de Solano Trindade

Solano, que em língua africana quer dizer Vento Forte, dedicou sua vida à cultura popular. Poeta, ator, pintor, cineasta, cresceu em Pernambuco, onde fundou em 1936, com o pintor Barros, Ascenso Ferreira e o escritor José Vicente Lima, a Frente Negra Pernambucana e o Centro de Cultura Afro-Brasileiro.

Em 1950, ao lado da esposa Margarida Trindade e do sociólogo Edson Carneiro, fundou o Teatro Popular Brasileiro, que apresentava uma mistura de música, dança e teatro, desenvolvidos a partir das raízes da cultura negra. O grupo, cujo elenco era formado por domésticas, operários, estudantes e comerciários, percorreu várias cidades brasileiras, viajando em 1955 para a Europa, onde se apresentou em vários países, com destaque para o Festival da Juventude Comunista em Varsóvia, Polônia.

Publicou os livros Poemas Negros, Poemas de uma vida simples, Seis Tempos de Poesia e Cantares ao Meu Povo, marcos da poesia negra brasileira. Por conta do poema Tem Gente com Fome, foi preso em 1944 e teve seu livro apreendido.

A convite do escultor Assis se apresenta com seu Teatro Popular Brasileiro no Embu, São Paulo, onde acaba fixando residência e criando um pólo cultural. Em 1975, um ano após a morte do poeta, sua filha Raquel Trindade funda no Embu das Artes o Teatro Popular Solano Trindade, dando continuidade ao trabalho desenvolvido por seu pai. Desde então o grupo vem se apresentando com frequência, difundindo cantos e danças populares brasileiros.

Geraldo Filme, amigo do poeta, tendo trabalhado com ele no Teatro Popular Brasileiro, foi o compositor do samba-enredo de 1976 da Vai Vai, Solano Trindade – Moleque do Recife. Raquel Trindade desenhou os carros alegóricos e as fantasias, tudo em preto e branco, cores da escola e de seu Orixá, Obaluayê. Nesse ano a Vai Vai foi vice-campeã do Carnaval de São Paulo. Mas o povo das arquibancadas todo cantou junto o refrão do samba “canta meu povo, vamos cantar, em homenagem ao poeta popular…” e gritou “é campeã!!….”

Beto Bianchi, Raquel Trindade, Letícia Coura, Zinho Trindade, Vítor da Trindade, Thiago Beat Box e Teatro Popular Solano Trindade no lançamento do álbum no Teatro Oficina 2006. Raquel Trindade na gravação do samba, no estúdio Cachuera!

ficha técnica gravação:

Beto Bianchi – violão

Letícia Coura – cavaquinho

Vítor da Trindade – surdo

Participações especiais:

Raquel Trindade A Kambinda – voz

Seu Maninho da Cuíca – cuíca

Naipe de percussão Solano Trindade – Daniel Camillo – caixa de congo | Manoel Trindade – caixa de congo, malacaxeta | Rafael Fazzion – tamborim | Thiago Beat Box – beat box | Zinho Trindade – voz

Coro Bixigão – Aneliê Shinaider, Binha, Carolina Almeida, Isabela Santana, Lady Glória, Laene Santana, Mariana, Talita, Xandy.

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